Ouvir Itamar Assumpção é entrar em contato com algo novo. Uma voz grave, distante de qualquer timbre radiofônico. Ritmos misturados, falta de linearidade nas melodias e letras simples que observam amenidades cotidianas mesclando humor e sensibilidade. Aliás, no fundo essa é a grande surpresa em Itamar Assumpção, ser um artista acessível. Entre suas influências estão Roberto Carlos, depois disso entende-se um pouco sua essência.
Achava que Itamar Assumpção gostava de ser rotulado como um artista marginal e acessível a poucos, mas pelos relatos de sua família e até mesmo por suas entrevistas, percebe-se que não. Todo artista precisa ser ouvido e reconhecido, até Itamar com sua aura marginal, queria ser reconhecido.
Atualmente foram lançados dois projetos associados a ele, o belo documentário "Daquele instante em diante" dirigido por Rogério Velloso e Caixa Preta (que reúne todos os seus discos, além de dois póstumos com várias participações especiais). Os dois projetos têm como principal objetivo, valorizar seu trabalho e trazê-lo para perto de muitos que até então não o conheciam. Ney Matogrosso, Rita Lee, Cássia Eller e Zélia Duncan engrossaram seu caldo gravando suas músicas e valorizam sua genialidade. Sorte dos poucos que conseguiram (e ainda conseguem) enxergar no Nego Dito sua genialidade e o poder de suas composições.
Devia ser proibido
Uma saudade tão má
De uma pessoa tão boa
(devia ser proibido)
Ópios, edens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
(dor elegante)
mas se apesar de banal
chorar for inevitável
sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma
duas três dez cem mil lágrimas
sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre
(milágrimas)
eu sou rio, você é o mar, nosso encontro é pororoca, você é flor eu sou o beija flor, nosso encontro é boca a boca, eu sou o frio você é o calor, nosso encontro é choque térmico...
(eu tenho medo)