“Gol de Quem?” do Pato Fu é um dos discos que mais ouvi na vida. Confesso que fui
fisgado inicialmente pelo grupo através da música “Sobre o Tempo” e da voz da Fernanda Takai, mas ao ouvir o disco todo fiquei impressionado com as faixas bizarras que misturavam letras em francês, programações eletrônicas,
baião, rock pesado, Nelson Gonçalves, Mutantes, e a voz esganiçada do então
líder da banda John Ulhoa. Ouvia tanto esse disco que sei até hoje a exata
ordem das músicas, além de todas as letras. O encarte todo gasto é a maior prova do tempo quase integral que passava ouvindo o disco. Em plena era digital ele atualmente repousa gasto na estante, mas feliz com os autográfos da banda toda.
Eis que 17 anos após o lançamento
desse disco que marcou minha adolescência e me abriu os ouvidos para tantas outras bandas, o Sesc-Belenzinho programou
quatro shows com o repertório completo do disco (anteriormente os
Titãs participaram do projeto tocando “Cabeça Dinossauro”). Corri pra comprar o ingresso,
mas não consegui, pois se esgotaram numa velocidade surreal. Já desencanado, fui
no dia 04 de agosto assistir a apresentação do Grupo Galpão de "Romeu e Julieta" no local onde
seria o show (Minas em peso no Sesc – Belenzinho!) e fui até a bilheteria, pra ver se de repente rolava alguma lista de espera, mas de cara fui informado que o show teve ingressos
devolvidos (como assim?) e que era possível comprar tranquilamente. Imagina a empolgação da pessoa depois dessa notícia.
Impossível descrever a emoção de
ouvir o repertório completo de um disco que é parte da minha vida. Já fui em vários shows do Pato Fu,
vários mesmo, e confesso que os momentos em que mais me divirto são os regastes
feitos pela banda das faixas lados B (momentos cada vez mais raros hoje em dia) e por isso vê-los tocar ao vivo músicas como “Onofle”, “Ok,
All Right”, “Vida Imbecil” e “Vida de Operário” foi surreal.
Outra surpresa foi ver o John
voltar a posição de vocalista principal da banda, posto que é ocupado
por Fernanda Takai desde o disco “Televisão de Cachorro”, eles inclusive
brincaram com essa situação. E pra quem acompanha a banda por mais tempo, eles
ressuscitaram o pad man, que é uma bateria acoplada ao corpo que antes era
utilizada pelo John, mas que no show foi usada pelo baterista Xande Tamietti.
O martelinho de “Ring my Bell”
também foi ressuscitado e inclusive foi testado na plateia.
O bis ainda contou com músicas do "Rotomusic de Liquidificapum" e "Ruído Rosa", discos com clima próximo ao "Gol de Quem?". Foi incrível ver o Pato Fu visceral, despreocupado em apresentar hits para platéia cantar junto e sem se importar em ressuscitar um repertório que dificilmente seria tocado se não fosse o projeto (e que bom que eles aceitaram participar!), rolou até uma palinha do John pra "Little Mother of Sky" do "Tem mas Acabou" de improviso após um pedido da platéia. Ouvir o disco hoje em dia soa
mais genial do que naquela época e acho que o tempo só vai ajudar pra colocar
esse disco como um dos mais geniais já produzidos no Brasil.