domingo, 12 de julho de 2009

O Marcelo me enviou esse texto por email e achei bem legal colocar aqui. Além de falar um pouco sobre a praça Roosevelt, um lugar que tenho bastante simpatia e frequento, a reportagem afirma que o público atual da praça é atraído pelos bares e não pelos teatros, o que eu discordo um pouco. Pode haver pessoas atraídas pelos bares, mas acredito que isso ajuda os teatros, pois quem passa a frequentar a praça, acaba de alguma forma atraído pelas produções, afinal, são muitas peças de temas e horários variados. Também acho que a variedade de público é que torna a praça tão atraente e interessante.
Gostei do texto da Nina Lemos (que sempre acompanho na TPM) em que ela tira sarro desse novo público que está interessado em frequentar a praça, mas é em sua maioria desinformado. Vale dizer também que em seu texto divertido ela não poupa os atores frequentadores por mais tempo do local das observações que constatou.



A praça da balada
Casa do teatro alternativo de São Paulo desde o começo da década, praça Roosevelt, no centro, vira ponto de encontro de botequeiros; donos de teatros negam mudança de perfil
LUCAS NEVESDA REPORTAGEM LOCAL

Sete salas de espetáculo abertas em momentos diferentes dos últimos 12 anos fizeram da praça Roosevelt o QG do teatro alternativo em São Paulo. Sobretudo a partir de 2003, a calçada entre as ruas da Consolação e Nestor Pestana, no centro da cidade, foi tomada por atores, dramaturgos e diretores, que ajudaram a dissociar a área do binômio tráfico de drogas/prostituição.De dois ou três anos para cá, boêmios e botequeiros de carteirinha, mais interessados na oferta etílica do que nas peças, engrossam o movimento de ocupação da praça. Isso sugere uma possível migração de foco na área: do teatro para o "oba oba" regado a álcool dos encontros de compadres."Virou mais baladinha do que centro cultural", diz o ator e dramaturgo João Fábio Cabral, que estreou na Roosevelt em 2003. "O público se renovou nos bares, mas o que gosta de teatro não cresceu. Tem de haver bares, mas eles não devem engolir os teatros."Para a atriz e diretora Fernanda D'Umbra, figura assídua dos palcos da praça desde 2004, isso se explica porque "é mais fácil entender o que se fala numa mesa de bar do que em cena; as pessoas são preguiçosas".Na contramão, o ator, diretor e dramaturgo Mário Bortolotto, também frequentador da Roosevelt há cinco anos, é incisivo. "Se a peça é ruim ou não tem apelo de público, não é culpa do bar. Quando o entorno do teatro é chocho, acaba que as pessoas não vão ver as peças."Existem hoje na praça um café-bar e um boteco. Além disso, seis dos sete teatros servem bebidas e têm mesinhas. Os administradores das salas dizem que os bares não são sua maior fonte de receita -ela vem sobretudo da bilheteria, segundo eles.Gerente do Teatro do Ator, único sem bar, Thiago Aratteus contesta. "A bilheteria não banca a manutenção dos teatros. A taxa média de ocupação das salas é de 40% [60% a 80%, afirmam os outros empresários]. São os bares que as sustentam."Em agosto, a ala etílica da praça ganha o reforço do Rose Velt, restaurante italiano e cachaçaria que terá entre seus sócios os criadores da Cia. Os Satyros, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez. O grupo administra dois palcos na Roosevelt, ambos com bares à porta."Cultura não é só o que se produz dentro da sala de espetáculo. Ter uma mesa na calçada faz parte do nosso projeto estético. A ideia é que esse espaço sirva de ponto de troca criativa", diz Vázquez. "Eu nunca teria um bar só pelo dinheiro. Mas não vou negar que [o faturamento] faria falta."Hugo Possolo, ator e diretor dos Parlapatões -que abriram sua sede na praça em 2006-, também faz o elogio do bar. "Não acho que o cara vá lá pela cerveja ou pela paquera. Vai para encontrar uma turma que pensa e interfere na cidade, para trocar ideias sobre um universo intelectual que não é só da arte, cobre da Parada Gay ao Sarney. Isso amplia a visão dos artistas que andam por lá.

Xerox do xerox

D'Umbra, em cartaz atualmente na Roosevelt, questiona esse alargamento de horizontes. "O que mais tem na praça é a classe [teatral] vendo a classe. A gente está ficando muito autorreferente. Há exceções, mas parece que as pessoas esqueceram que o mundo é imenso."E completa: "É uma fábrica de teatro alternativo [...] A gente está tirando xerox do xerox: não é só botar em cena uma "mina" com uma garrafa na mão e um cara falando palavrão que se vai explicar alguma coisa. É preciso que as pessoas tenham de onde ter tirado isso [...] Acho de uma importância ímpar a recuperação da praça, mas a gente não pode se iludir."Para o diretor Maurício Paroni de Castro, que estreou na praça em 2005, o aumento da circulação de pessoas por conta dos bares elitizou a área. "Os teatros passaram a ter segurança na porta, o preço do estacionamento subiu, começaram a estacionar carro na passagem dos cadeirantes. Virou uma Vila Madalena de segunda."Nos bares, a maioria dos fregueses abordados pela reportagem diz bater ponto na praça mais pela cerveja do que pelo teatro. Mesmo dentre os que moram ali, muitos afirmam frequentar mais assiduamente o circuito "off Roosevelt" do que a cena que lhes é vizinha."Depois do "boom" do teatro na praça, veio muito fanfarrão, virou modinha. Essa nova frequência vem atrás dos bares que têm teatros, e não o contrário", observa o artista plástico Felipe Aizawa, que circula pela praça há cinco anos.

"Todo ator precisa de plateia"
NINA LEMOS COLUNISTA DA FOLHA

"Você vai ao show do Bortolotto?", pergunta uma menina para outra, na calçada da praça Roosevelt, em frente ao bar dos Parlapatões, o local mais agitado do point do "povo do teatro". O Bortolotto em questão é o dramaturgo Mário Bortolotto, espécie de rei do local. Ele é um dos responsáveis pela revitalização da área e pela conversa em uma das mesas mais animadas do local, na véspera do feriado.Lá pelas 2h, com as portas fechadas, o local continua lotado. "Aqui é um "Big Brother'", explica "a atriz", que está em cartaz em um dos teatros da praça. "Sabe por que a gente frequenta os bares da Roosevelt? Porque todo ator precisa de aplauso. E aqui te aplaudem mesmo quando você está bêbada caída no chão.""O Rapper", que não é do teatro, mas frequenta a praça, faz coro. "Aqui tem mais povo do teatro, mas eles são abertos a quem é de fora, porque ator precisa de plateia."Os frequentadores da Roosevelt discordam em relação ao tamanho do "público". Há quem fale em 45% de "estrangeiros", outros apostam em 15%. Mas como se reconhece alguém que é do teatro? "Eles estarão usando roupa de brechó e tentando aparecer", diz o amigo diretor. E talvez usando acessórios exóticos, como uma cartola dourada, adereço de uma moça que ocupa uma mesa do Papo, Pinga e Petisco, que tem um boneco do Elvis na porta. Ao lado, dois homens com roupa social conversam. As calças de tergal convivem em harmonia com a cartola.Enquanto isso, o bicho continua pegando nos Parlapatões. "Aqui é o nosso "footing'", diz a atriz. E a plateia aplaude.