
Pilar também demonstra seu amor e sua personalidade forte de espanhola ao controlar a rotina do marido (mas sem passar por cima de suas decisões), discutir feminismo, política e sendo sempre polêmica e direta nas entrevistas que concedia.
Vão sendo reveladas aos poucos as intimidades do casal: o mau humor de Saramago em relação à posição política da mulher, a relação com a família de Pilar (que para ele é assustadora pela calorosidade espanhola) e o controle de Pilar sobre sua obra e até mesmo suas roupas e alimentação. Em determinado momento, por não concordar com um andamento de uma adaptação de uma peça de seu livro (que tinha no elenco Gael Garcia Bernal), Saramago contesta aborrecido para Pilar, que em seguida se magoa, mas se cala. Ele logo desconversa e diz algo bonito para a mulher chamando-a para ouvir e aos poucos tudo fica bem novamente, mostrando com clareza a maneira que o casal se relaciona.
Outros momentos ótimos de ternura do autor são em relação aos fãs. O autor tinha uma paciência ao assinar livros e ao negar dedicatórias e até mesmo desenhos (aliás, o público foi o campeão nesse quesito de tietagem, deixando o escritor extremamente tímido com declarações do tipo "eu te amo").
Um momento lindo do filme é quando são citadas as dedicatórias de cada livro escrito por Saramago. Muitos foram para Pilar e a mais linda de todas está no livro “A Viagem do Elefante” (onde o processo de escrita é filmado) onde o escritor diz: "A Pilar que ainda não tinha nascido e tanto tardou a chegar". Essa dedicatória registra a vontade que Saramago tinha de viver, principalmente para estar ao lado de Pilar por mais tempo.
Ótimo filme para fechar a minha curta programação da Mostra.