segunda-feira, 20 de junho de 2011

Exit Through the Gift Shop

No documentário “Exit Through the Gift Shop” Banksy expõe de maneira realista como funciona a indústria cultural. Por meio da arte de rua, o filme mostra a ascensão de um artista até então desconhecido que passa a ter a atenção da mídia graças ao staff que o envolve. E aí seguem as ferramentas que envolvem um artista: o produtor, a mídia, os críticos de arte, entre outros. Mr. Brainwash é o pseudônimo de Thierry Guetta, um cara comum que passa a fazer arte de rua copiando Banksy (e outros artistas desse estilo como Shepard Fairey que também aparece no filme) e fazendo obras em série apenas para ser vendida e consumida como um mero produto industrial. Ao conseguir êxito em sua mega-primeira exposição, ele alcança prestigio e consegue até trabalhar com grandes nomes (como a cantora Madonna).

O documentário mostra de maneira explicita como funciona essa indústria cultural, explicitando sua superficialidade e ânsia por novidades volúveis. O documentário deixa também claro o posicionamento de Banksy que um artista notório e conceituado no meio artístico, utilizando em suas obras conteúdo social que expõem sua aversão aos conceitos de autoridade e poder. Sem se deixar ser identificado, Banksy é um artista subversivo que propões em sua arte de rua intervenções (que rodam o mundo inteiro) que provocam reações adversas na sociedade. Ele utiliza sempre ícones da cultura popular para fazer a sua critica (como na arte abaixo que usa Mickey Mouse e Ronald Mcdonalds de braço dado com a imagem ícone da bomba atômica no Japão).

Banksy também utiliza outros meios para divulgar sua arte e seu posicionamento social e político como fez em suas intervenções acima na fronteira entre Israel e Cisjordânia. Banksy nunca fala em público e não se sabe ao certo se trata apenas de uma pessoa. Também há possibilidades do documentário ter sido planejado por ele, assim como o artista Mr. Brainwash, que pode ter sido criação dele. O fato é que sua preocupação em mostrar a realidade da indústria cultural é corajosa e merece grande reconhecimento.
O texto “O consumo serve para pensar” observa com certo otimismo uma preocupação da indústria cultural com o social e o ambiental. Diversas empresas tem se preocupado em utilizar materiais recicláveis, abordagens sociais, além de uma busca por novidades. Como já discutimos em aula, o artista que talvez possa estar inserido como parte da indústria cultural, mas acompanhado de um olhar apurado e artístico é Vik Muniz. Ele é um artista que sabe equilibrar seu trabalho sendo comercial, mas oferecendo inovações e questionamentos. Seu grande êxito comercial ocorreu no trabalho "Sugar children" que fotografou crianças de famílias que cultivavam cana-de-açúcar no Caribe. Como esse projeto proporcionou um retorno para essa comunidade, Muniz que é brasileiro, quis fazer algo parecido em seu país.

Para isso ele utilizou o lixão de Duque de Caxias – RJ como obra prima da sua arte. Esse projeto resultou no documentário “Lixo Extraordinário” estrelado por Vik Muniz e por vários catadores de lixo. O filme atuou de forma social, apresentando através de uma oportunidade aos catadores um mundo novo, mas também ajudou a divulgar o olhar que Vik Muniz tem sobre o mundo através das suas fotografias. Indicado ao Oscar de melhor documentário e vencedor de prêmios de público nos festivais de Sundance e Berlim em 2010, o filme registra todo o processo criativo do artista, sem deixar clara a sua posição no mercado de arte (ele consegue uma grande quantia por seu trabalho em um importante leilão) mundial.

Mas não se pode deixar de observar que ele apropria-se desse processo para criação comercial. O trabalho do documentário, por exemplo, serviu de base para a abertura da novela “Passione” da TV e que Vik Muniz fez também um editorial da revista Vogue, onde utilizou na modelo Kate Moss chocolate, da mesma forma que também o utilizou na capa do CD “Tribalistas” de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, trabalho que teve grande visibilidade no Brasil e exterior, vendendo mais de dois milhões de cópias.

Aloísio Magalhães, símbolo do design gráfico e sempre associado à arte no Brasil, fez certa vez uma observação onde dizia que o valor cultural e social devem ser peças fundamentais na carreira de um artista ou designer. Para ele elementos oriundos de nossa latinidade, a cultura nativa do índio brasileiro e as de origem africana devem ser usadas no processo criativo. O autor também cita a intuição como parte importante, mas sempre de forma polida observando a situação econômica e social, detalhes que são bem observados por Vik Muniz.
No fim o questionamento acaba sempre sendo o mesmo: design é ou não arte? A discussão e infindável e acredito que seja importante mantê-la viva para observar a evolução e as mudanças que ocorrem de tempos em tempos com surgimento de novos estilos, técnicas e movimentos culturais – sociais e políticos, por isso será sempre indefinido se design é ou não arte.