sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Nina Becker


Desconfio que Nina Becker seja filha de Mutantes. Ela parece ter herdado o dom de criar músicas de outro universo. Esse experimentalismo na veia para mim ficou mais evidente quando a vi em um show dedicado ao álbum mais experimental da carreira de Rita Lee e Mutantes, o “Build up”. Sua voz casou com tanta perfeição que criou-se a impressão de ouvir a gravação original. O disco que tem versão pra música religiosa, cover de Beatles, bolero e até uma música com letra de receita de macarrão caiu como uma luva pra Nina Becker, que estava (e costuma estar na maioria das vezes) acompanhada pela mais experimental banda da atualidade, a Do Amor – só pra ter uma noção, os caras tocam com Caetano.

Depois desse show comecei a acompanhá-la com mais frequência e conheci seu EP Superluxo. "Vossa autoria" foi uma das músicas que me fizeram esperar ansioso pelo disco que estava sendo gravado. Depois de um tempo ele saiu, mas duplo, um Azul e outro Vermelho. O Vermelho de cara foi o que eu mais ouvi. Começa com “Madrugada Branca” que me remeteu a canção “Três da madrugada” com a Gal, achei tudo tão próximo. Como a Gal fez nessa canção, Nina canta como ela os versos em doses homeopáticas, nos transportando imediatamente para uma madrugada solitária. Depois surgem algumas animadinhas que casam tão bem ao seu estilo de voz. “Toc, toc” é minha preferida e está completamente diferente do arranjo do compositor Rubinho Jacobina. Ela é mais lenta, mas com uma levada deliciosa que não deixa a música entediante. “Superluxo” (que letra linda), “Tropical Poliéster”, “Volte sempre” eram algumas das faixas que também me perseguiam nesse período. "Do avesso" foi a última que me apaixonei, aí então percebi que já estava na hora de ouvir o Azul. Fui logo pra “Samba Jambo” a mais animadinha e viciei no arranjo sem bateria que é de uma cadência e sonoridade linda. Em seguida fui pra “Não Tema” que é um daquelas músicas que a gente curte quando tá na fossa, querendo sofrer e se remoer sentando num cantinho bem confortável. Me senti aquecido. Depois pra outras faixas como “Pedido”, “Ela adora (bem no estilo da música “Gerânio” que a Marisa Monte compôs com o Nando Reis)” foi um pulo.

Agora me deparei com o programa que ela gravou. O Grêmio Recreativo da MTV com Arnaldo Antunes. Nina Becker surgiu com o Do Amor e com Caetano Veloso. Os dois últimos cantaram “Muito”, música que o Caetano fez pra Regina Casé – além de “Rapte-me Camaleoa” que todo mundo já está cansado de saber. Nina Becker cantando essa música é uma das coisas mais lindas que eu já ouvi na vida. Tocante, de arrepiar e emocionar. E nesse programa ela tocou uma nova chamada “Marco Zero” que tem uma pegada rock, pop, mas aquele pop que a Rita Lee fazia nos Mutantes, um pop bom, com pegada e com cara de novidade. Um pop que só que tem DNA de mutante consegue fazer.