domingo, 16 de agosto de 2009


Tanto filme nacional bom em cartaz, certamente uma das melhores fases do cinema nacional (e sem querer fazer discurso chato, porque é fato)...


Coração Vagabundo


Um documentário que inicialmente seria um extra no DVD da turnê de “Foreign Sound” (um dos discos mais chatos do Caetano Veloso) acabou gerando o filme, pois o projeto do DVD não vingou e como havia um material extenso e interessante (pra alguns!) acabou virando filme. Vale dizer que é um filme para fãs. Quem não gosta do Caetano Veloso ou gosta de uma ou outra música, não é recomendável. O filme é o cantor/compositor/escritor/diretor falando sobre tudo. Uma das cenas que eu achei mais engraçada foi quando ele estava no camarim esperando para se apresentar e o diretor com a câmera chega e Caetano vai logo falando “olha, não vou poder falar nada, minha voz ta ruim e preciso ficar calado”, depois de alguns segundos ele volta a falar “é, vai ser um filme de um cantor mudo” e novamente ele volta a falar sobre cinema quebrando sua regra inicial de ficar calado. Essa é a primeira parte do filme, Caetano feliz, alegre, nervoso (quando dá uma entrevista para uma emissora americana e sente-se subdesenvolvido). Depois na segunda parte em uma viagem pra Tókio (dois anos depois) ele já não é o mesmo, está bem calado (realmente!) e fala pouco, se diz triste e em crise. A crise era real e envolvia sua separação. Eu como fã vibrei o filme inteiro e senti muita inveja do diretor que conseguiu passar muitos momentos com ele. O filme também é bacana pelas participações de Gisele Bunchen, Pedro Almodóvar, Paula Lavigne (que é muito engraçada), Michelangelo Antonioni e David Byrne.


À Deriva


Não esperava nada desse filme, principalmente depois de ler a sinopse e assistir e ler milhões de reportagens sobre ele, mas acho que gostei exatamente por isso, pois não criei nenhuma expectativa e me surpreendi o tempo inteiro. O filme esteticamente é deslumbrante, uma luz fantástica que me remeteu um tom nostálgico, bem o que o diretor queria passar e os atores compõem esse clima com perfeição (aliás, só tem gente bonita no filme). Mas me surpreendi mesmo com a história que inicialmente me parecia algo banal e simples, mas que aos poucos vai abrindo novos caminhos com outros conflitos que até então estavam escondidos e aos poucos vão sendo mostrados no filme ampliando assim a intensidade dos personagens. O que surpreendi no filme é como os personagens vão mudando na percepção do espectador quando a história vai se desenrolando. Outra coisa que achei linda no filme foi a relação entre o pai e a filha que é de uma delicadeza absurda. A cena final que marca a relação entre os dois é uma das mais lindas que eu já assisti e eu que sou uma pedra de gelo me envolvi completamente.


O Contador de Histórias

Já conhecia a história do Roberto Carlos Ramos há bastante tempo, tinha assistido alguns programas que ele participou anos atrás e lembrei na hora dele quando ouvi falar do filme. Aliás, vi falarem do filme quando a Maria de Medeiros veio pra Mostra Internacional de São Paulo e andava de braço dado com a Denise Fraga pra baixo e pra cima e em alguma entrevista ela acabou contando sobre o projeto. Depois acabei vendo o trailer do filme e minha expectativa foi imensa, achei lindo o que vi. Mas depois de assistir não fiquei com a mesma sensação, me emocionei mais com o trailer do que com o filme. Depois de ver o filme achei bastante interessante a idéia do diretor de misturar algo lúdico na visão do protagonista durante sua infância, essas cenas na minha opinião são os melhores momentos do filme. Também os momentos que ele vive durante sua estadia na FEBEM são bem interessantes, pois fogem um pouco da visão lúdica, mas tem uma edição bem eficiente, com uma trilha perfeita e a narração do próprio Roberto Carlos. Depois disso achei que o filme foi pra um lugar comum demais, ficou um pouco meloso e perdeu muito da estrutura inicial que dava um ar original pra história.


Moscou


A maioria das criticas do novo filme do Eduardo Coutinho foram positivas e creio que isso se deve ao respeito que as pessoas tem ao diretor, que é maravilhoso e agora está se arriscando cada vez mais em filmes que são documentários, mas ao mesmo tempo usam um pouco de ficção. Antes de “Jogo de Cena”, seus filmes buscavam personagens desconhecidos e comuns. “Santo Forte”, “Babilônia 2000” (que, aliás, assisti ontem e achei sensacional!) e “Edifício Máster” são exemplos de como ele consegue extrair de pessoas comuns histórias sensacionais que comovem qualquer um, mas a partir de “Jogo de Cena” ele resolveu investigar o que há por trás da cena. Em “Moscou” ele parecia dar prosseguimento a sua investigação anterior, mas dessa vez de uma forma mais complexa. Sua idéia inicial era registrar o processo de criação de um grupo teatral, mas depois de ver o filme não fica muito claro o interesse pelos bastidores, pois em determinado tempo o filme passa de documentário para ficção. Não há nenhuma interferência do diretor, não há perguntas, apenas encenações. Confesso que me decepcionei um pouco. Esperava mais, queria ver mais do processo, ver como ele interferiria nos ensaios. No fim acabei ficando sem entender nada, pois ele não estava lá pra investigar.