Sempre tive uma certa resistência a Cássia Kiss. Colocava ela sempre na categoria de atriz intensa com respiração ofegante. Outro dia assistindo ao "Vitrine" na TV Cultura, vi uma entrevista com ela, onde o principal assunto era sua peça "O Zoológico de Vidro" de Tenessee Williams. Ela dizia sobre o tempo que ficou afastada do teatro e que mesmo não fazendo ela inseria na TV técnicas teatrais e isso não a deixava fora do ofício que mais gostava. Hum, tá aí a explicação da minha categoria! Hoje vi a peça e foi uma experiência bem interessante. A peça tem o preço mais acessível, trazendo um público diversificado (tinha uma menina atrás de mim abrindo e fechando a bolsa tantas vezes, que na hora tive que virar pra ver o porquê daquilo. Qual foi a minha surpresa ao virar? A menina estava retocando a maquiagem. No escuro do teatro!) que ria de maneira exagerada aos díalogos da peça. Riam sem perceber que havia algo pesado por trás daquelas palavras que soavam engraçadas. Depois no fim da peça foi aberto um debate com os atores, incluindo Cássia Kiss, que se mostrou aberta, mas cansada e com certo ar bláse. Em certo momento, ela fez questão de encerrar (com razão, pois as perguntas ou eram óbvias e repetitivas ou então eram direcionadas a detalhes técnicos que ela não tinha o menor interesse em responder), mas foi um díalogo bastante interessante em torno do processo de criação da peça, contrução do personagem, pesquisas que são essenciais durante os ensaios, como lidar com o ego, vaidade, conflito entre colegas. Entendi perfeitamente que a base dela como atriz é realmente o teatro. Sua intensidade na TV é proposital e de certa forma é até reacionária, por ir na contramão do que é feito e mesmo assim conseguir espaço cativo. É engraçado, pois lendo o programa da peça soube que o personagem feito por ela na peça, foi anteriormente interpretado por Beatriz Seagal. Uma atriz que assim como ela, é boa, competente, mas extremamente bláse.